A BR-101 fica pra trás, e a estrada chão serpenteia com o rio até uma baía de águas mansas e cristalinas, com algumas poucas casas de pescador, outras de veraneio, e a igreja Nossa Senhora da Conceição, erguida em 1700 e ainda de pé. Em Mamanguá e Paraty Mirim, diferente da vizinha e badalada Paraty, reinam a natureza e a calmaria.
A floresta cobre as montanhas até onde o olhar alcança nessa região protegida pela APA do Cairuçu, onde fica também uma das aldeias Guarani-Mbya. Os índios têm suas terras demarcadas aqui desde 1996, e a presença da tribo ajuda na preservação da natureza local. É verde que não acaba mais, bonito mesmo de ver. E adiante, muito mar azul.
É esse o lugar que escolhemos para a nossa primeira viagem desde que a pandemia se instaurou. A escolha não podia ter sido mais incrível: um roteiro de praias paradísíacas, cachoeiras, trilhas e muita natureza. Ao todo, aqui, são mais de 300 praias e 60 ilhas. É mais que um pedaço de mar para cada dia do ano.
Para ler sobre a cidade de Paraty e seu centro histórico, veja aqui o roteiro de 5 dias com atrações no centro histórico. E aqui tem um Guia da Ilhabela.
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Onde ficar em Paraty e Mamanguá
Essa é o melhor lugar para ficar em Paraty e Mamanguá se a ideia for natureza. Nossa base foi a Casa de Vidro (reserve aqui pelo booking), uma construção belíssima e totalmente integrada à natureza, , cercada pelo mar e pela floresta.
Dentre tantos hoteis fora de série que conhecemos, essa casa foi um dos lugares mais lindos onde já nos hospedamos.
A casa acomoda 10 pessoas, e tem 4 níveis por onde se distribui 3 suítes avarandadas e 1 quarto, uma sala de jogos, outra de estar com cozinha americana. Uma das suítes tem hidromassagem com a vista do mar e de Paraty-Mirim. O mesmo se vê da sauna.
No lugar de paredes de argamassa, há gigantescos janelões de vidro, sustentados por madeira e pedra. Do lado de fora, deques com espreguiçadeiras e cadeiras casulos debruçam sobre o mar, rodeados de um jardim de palmeiras. E uma piscina de vista infinita completa o cenário.
A decoração é toda inspirada no Sudeste Asiático, com referências de Bali e da Tailândia e, quem quiser, pode contratar serviço de faxina e cozinha.
A atmosfera é toda especial nesse lugar. Às vezes, passam golfinhos aqui na frente, e tartarugas também, e todo o tempo é só o som do mar e dos pássaros.
O tempo das coisas é o tempo do natureza
Para chegar a casa, só de barco ou por uma trilha rápida (falo sobre isso logo abaixo). De barco é mais divertido e, saindo do pequeno cais de madeira, é sempre seu Celinho que busca a gente numa canoa a motor.
Ele é nativo, vive do mar, e trabalha como caseiro. Coisa rara nos tempos de hoje, onde o turismo desembarca com o progresso em quase todos os lugares e muda um pouco a feição das coisas.
Pergunto a ele se vai chover. Tinha visto pelas previsões que o tempo ia fechar, mas ele nem liga pra isso. Responde que depende do vento.
– Se vier da terra, é chuva. Se vier do mar, vai fazer sol _ diz, olhando pra cima. – Deve fazer sol.
E fez. Os dias seguintes, foram no balanço dessa sabedoria.
Viagem de isolamento na pandemia: Mamanguá e Paraty-Mirim
Foi nossa primeira viagem desde março, quando a pandemia se instaurou. A escolha do Mamanguá e Paraty Mirim foi certeira: nossa ideia era estar em meio à natureza, ao ar livre, viajando, mas ainda assim praticando o isolamento.
Levamos nossa comida, embora a casa ofereça esse serviço, e não foi preciso sair da casa para nada.
Fizemos alguns passeios, mas para lugares vazios. E foi lindo e responsável. Saímos dessa viagem com a certeza de que é possível atravessar esse momento de forma mais leve, sem ser entre quatro paredes, em contato com o sol e o mar, mas sem aglomerar, sem colocar os outros em risco e sem nos expor.
Fizemos teste de Covid e deu negativo. E, nas poucas vezes em que saímos da casa, usamos máscaras para preservar os nativos e nós. Isso é fundamental. Paraty Mirim é um pequeno vilarejo, com uma população idosa e mais vulnerável, e respeito aos protocolos é dever de todo viajante.
Como chegar em Paraty-Mirim e Mamanguá:
A Casa de Vidro Paraty fica no costão de Paraty-Mirim, a 20 minutos do centro histórico de Paraty e uma braçada de mar do Saco do Mamanguá.
O acesso é apenas por uma curta trilha que circunda a encosta (menos de 10 minutos de caminhada levíssima) ou de barquinho (5 minutos; a dona da casa passa os contatos depois que a reserva é feita). Cada trecho de barco custa R$3o (por trecho, e não por pessoa, e no barco cabem dez pessoas).
Pode-se deixar o carro estacionado em Paraty-Mirim. Há vários na vila, e custa R$15 por dia.
Quanto tempo ficar no Mamanguá e Paraty:
Eu recomendo ao menos 5 dias na Casa de Vidro. Primeiro, porque a casa é uma preciosidade.
Fora isso, há todos os lugares bacanas pra conhecer no entorno.
Ilhas de Paraty (mar do sul): dia 1
Fizemos o passeio para conhecer as melhores praias e ilhas de Paraty (no mar do sul) com o @palombetaboat. Confesso que nunca imaginei que essa região tivesse praias de água tão azul, vegetação tão preservada, e vazias: não esbarramos com nenhuma outra embarcação (a não ser um única escuna na Ilha dos Cocos).
Escolhemos o privativo, por razões óbvias de pandemia, e porque assim a gente vai parando e ficando o quanto quiser em cada praia. Tem mais liberdade. Fora isso, as escunas saem de Paraty estão muito cheias, mesmo nesse momento de pandemia, o que considero muito arriscado.
O privativo funciona assim:
- Tem a lanchinha mais rápida e que chega em mais praias, e a traineira mais lenta e com climinha retrô.
- Os preços começam em R$800 para traineira para até 6 pessoas, e vai subindo de acordo com a quantidade de passageiros. Na lancha, os valores variam entre R$900 e R$1100 na lancha (mais rápida que a traineira).
O passeio eu mostro todo aí no vídeo.
As praias em que paramos foram:
- Jurumirim: linda, pequena, cercada de floresta
- Ilha Comprida: conhecida como aquário natural, porque tem muitos peixes. É uma parada para nadar no mar, porque não tem areia
- Ilha dos Cocos: tem um mar absurdo de tão esmeralda, cercada de muita vegetação.
- Ilha do Algodão: é a maior ilha de Paraty, mas também com acesso apenas por barco. Lindíssima, de mar turquesa, e vazia. Funcionou como entreposto comercial na época do Brasil Colônia.
Passeio de barco pelo Saco do Mamanguá: dia 2
Aqui no Saco do Mamanguá, o braço de mar invade o continente e rasga as montanhas desenhando um fiorde tropical, o único do Brasil, com dezenas de micro enseadas, e cachoeiras, mangues, rios de águas límpidas e trilhas pela floresta.
E apesar de toda essa beleza, o turismo não chegou forte e as vilas caiçaras se mantiveram. Passamos um fim de ano aqui em 2009, e mesmo com a chegada da luz, o Mamanguá mudou pouca coisa. Wi-fi é quase inexistente, 3G não pega, e a comunidade bate firme quando vê desmatamento.
O passeio repetimos, com prazer, com o@palombetaboat.
O que ver no passeio pelo Saco do Mamanguá
- primeira parada foi no Saco da Velha, uma praia um pouco antes da entrada do Saco, de continente mas só acessível de barco. A praia é um escândalo, e tem um gruta enorme para quem gosta de explorar.
- a segunda parada na praia do Buraco, já no saco. E que mar encontramos lá: turquesa, cristalino, e sem ninguém.
a terceira do parado foi a Praia do Engenho, gostosinha, cheia de amendoeiras frondosas fazendo sombra na areia, e com uma pequena queda de água doce. Dessa praia saem várias trilhas, para cachoeira e também para o famoso Pico do Pão de Açucar. - terminamos o passeio almoçando no restaurante do Dadico, pescador nativo. O lugar é uma delícia, com um deque de madeira sobre as águas. Teve peixe que ele iscou de manhã, e ostra que garfou na hora no mar, ali na nossa frente. Devoramos felizes, com direito a redário depois para fazer a sesta.
Cachoeiras de Paraty, Cunha e Paraty-Mirim: dia 3
Essa é uma região oceânica cercada de áreas de proteção de floresta, entre elas a reserva do Cairu, de Paraty-Mirim e o Parque Nacional da Serra da Bocaina.
A quantidade de água doce que corre por essa mata não é brincadeira, e inclui um circuito concorrido com dezenas e de rios, poços e quedas d’água, algumas com acesso facílimo e outras nem tanto.
Para fugir da muvuca, escolha o passeio privativo, e chegue 8h (as vans de passeio desembarcam grupos enormes na cachoeiras a partir de 11h). Fizemos com a Paraty Tours, e foi ótimo porque eles bolaram um roteiro com locais e horários alternativos, e encontramos todas as cachoeiras praticamente vazias.
Recomendo muitíssimo a agência deles. Os carros são Landrovers abertas, higienizadas antes e depois de cada passeio. Nosso guia, Cristiano, sabia tudo da região, e fez o passeio com maior tranquilidade e sem pressa nenhuma.
Caso vá com a Paraty Tours, o valor do privativo é R$800 por carro e cabem até 8 pessoas. Já o tour regular custa R$100 por passageiro. Se escolher ir por conta própria, tenha em mente que parte da estrada é esburacada e com muitas pedras; tenha atenção redobrada.
E essas são as cachoeiras que visitamos:
- A primeira delas foi a que mais me impressionou: a cachoeira da pedra branca, com dois lagos enormes de cor coca-cola e duas quedas d’água. Só ela já vale uma manhã toda.
- Seguimos para a cachoeira das Sete Quedas, que não está na rota das agências, e é maravilhosa. De novo, dois lagos e várias quedas d’água.
- A terceira parada foi na Cachoeira da Jamaica, outra fora do circuito turístico e muito linda.
- E, para terminar, o tobogã, essa sim bem cheia, mas divertida: um enorme escorrega natural formado de pedra e com água corrente.
Dias 4: ilhas mar do Sul de Paraty
Foi dia de conhecer o outro lado do mar de Paraty com a Paraty Tour, e explorar ilhas menos conhecidas. O passeio na lancha privativa custa a partir de R$1800. Para quem quiser, a empresa tem também opções mais em conta na escuna.
- A primeira parada foi na Ilha Comprida do norte. O lugar é lindo: há duas ilhas que formam uma espécie de canal, e na maré baixa forma-se uma prainha. O mar é cristalino, mas o local é parada de escunas. Chegue antes de 9h para curtir com calma e sem muvuca.
- Seguimos para a Ilha do Malvão, uma bolota no mar com um bico de areia. Linda e vazia!
- E terminamos no que eu considero a cereja: a Ilha do Pico. Ninguém no mar, água esmeralda e cristalina, cercada pela paisagem de outras ilhas e da Serra do Mar ao fundo. Estonteante.
Dia 5 em Mamanguá e Paraty Mirim: caique no manguezal (do Mamanguá) com cachoeira do Rio Grande:
“Javyju”, nosso guia Chico diz ao menino na canoa. Não sei dizer bem a idade do rapazinho, talvez uns 8 anos, remando sozinho um barco de alumínio três vezes o tamanho do nosso caiaque. Ele passa a gente com sobra, e some no rio que serpenteia pelo mangue.
Pergunto ao guia o que ele disse ao garoto; Bom dia, me responde. O menino faz parte de uma família de índios guaranis que moram ali. São as únicas pessoas nos quase 7km de mangue super preservado, dentro da Reserva Ecológica Estadual da Juatinga. E nem debaixo, ou do alto, se vê a mão deles, nem sequer uma clareirinha na mata. Índio se mistura com a natureza, e ajuda a preservar. Temos que aprender mais com eles.
Continuamos remando por mais 1,5 km de rio navegável, e o mangue vai dando lugar a uma vegetação mais densa, com árvores grossas e palmeiras, até chegarmos numa micro praia de água doce. Deixamos os caiaques, pegamos uma trilha de 10 minutos, e chegamos na cachoeira do Rio Grande.
Durante todo o tempo, nosso único encontro foi com o pequeno índio. E mais ninguém em todo o caminho. O passeio é um dos mais bonitos que já fizemos por aqui, e totalmente fora da rota do turismo.
Para fazer o passeio:
Quem nos levou foi a Paraty Tours (R$340 por pessoa). Fomos de barco até o fim do Saco do Mamanguá, e pegamos os caiaques lá
De lá, remamos cerca de 1h pelo mangue até a cachoeira na ida, e outra 1h na volta. Mas é uma remada fácil, sem correntes. Fechamos com chave de ouro comendo um peixe fresquinho do Dadico, com arroz, feijão, e mandioca colhida no quintal.
O passeio tem nível fácil, e creio (mas isso é subjetivo) que qualquer pessoa que tenha um pouquinho de preparo consegue fazer. Recomendo muito!
Dias 6 e 7 em Mamanguá e Paraty Mirim: não faz nada
Foram dias de não fazer nada, e curtir a Casa de Vidro que, como eu disse, só ela já vale a viagem. Temos que aprender que não fazer nada é parte de viajar
Acordar sem pressa, curtir a paisagem, prestar atenção nos pássaros, tomar um café da manhã sem pressa, mergulhar na piscina, pega sol largados no dique, pegar chuva também, remar sem destino pela baía, tudo isso fizemos nesses dois dias.
Foram fundamentais. Foi o que fez a gente sentir calma, relaxar, mergulhar no clima pacato de Paraty-Mirim e entender como o tempo passa lá.
Um tempo mais lento, dos pescadores e da natureza, e que a gente apressou na cidade. E depois de tanto tempo trancados em casa, com o mundo em suspensão, acho que é um dos aprendizados necessários: que precisa voltar a falar a linguagem do mar e da floresta.
Caique no manguezal (Mamanguá) com cachoeira do Rio Grande:
“Javyju”, nosso guia Chico diz ao menino na canoa. Não sei dizer bem a idade do rapazinho, talvez uns 8 anos, remando sozinho um barco de alumínio três vezes o tamanho do nosso caiaque. Ele passa a gente com sobra, e some no rio que serpenteia pelo mangue.
Pergunto ao guia o que ele disse ao garoto; Bom dia, me responde. O menino faz parte de uma família de índios guaranis que moram ali. São as únicas pessoas nos quase 7km de mangue super preservado, dentro da Reserva Ecológica Estadual da Juatinga. E nem debaixo, ou do alto, se vê a mão deles, nem sequer uma clareirinha na mata. Índio se mistura com a natureza, e ajuda a preservar. Temos que aprender mais com eles.
Continuamos remando por mais 1,5 km de rio navegável, e o mangue vai dando lugar a uma vegetação mais densa, com árvores grossas e palmeiras, até chegarmos numa micro praia de água doce. Deixamos os caiaques, pegamos uma trilha de 10 minutos, e chegamos na cachoeira do Rio Grande.
Durante todo o tempo, nosso único encontro foi com o pequeno índio. E mais ninguém em todo o caminho. O passeio é um dos mais bonitos que já fizemos por aqui, e totalmente fora da rota do turismo.
Para fazer o passeio:
Quem nos levou foi a Paraty Tours (R$340 por pessoa). Fomos de barco até o fim do Saco do Mamanguá, e pegamos os caiaques lá
De lá, remamos cerca de 1h pelo mangue até a cachoeira na ida, e outra 1h na volta. Mas é uma remada fácil, sem correntes. Fechamos com chave de ouro comendo um peixe fresquinho do Dadico, com arroz, feijão, e mandioca colhida no quintal.
O passeio tem nível fácil, e creio (mas isso é subjetivo) que qualquer pessoa que tenha um pouquinho de preparo consegue fazer. Recomendo muito!
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Por favor, gostaria de saber se há alguma opção com possiblidade de chegada de carro na casa.
Oi, Herberton. Na casa de vidro? Se for dela que vc está falando, só de barco. Mas são realmente cinco minutos. É como se fosse a travessia de um canal, muito perto. E custa R$30 por trajeto (e não por pessoa. Você paga 30 pelo grupo). Há uma trilhazinha tb, mas com as bagagens fica complicado. O carro você deixa estacionado em Paraty-Mirim, no mesmo lugar onde pega o barquinho (é seguro).
A cachoeira na foto é a da Pedra Branca. 7 Quedas fica bem mais acima.
Oi, Guido.Essa em que eu apareço é a das sete quedas, sim. Nós fomos nela. A da Pedra Branca tb fomos, é a que mostramos no vídeo junto – novamente – com a das sete quedas.
Lugares lindos!
Lugar lindo, mas essa casa é um crime ambiental, assim como tantas no mamangua.
Construções sobre costoes rochosos, proibidas, mas com jeitinho aobestilo Luciano Huck
Amei esse post!!!
obrigada!!!