Continuando nossa travessia pelo Chile (leia aqui os outros posts sobre a viagem), hoje a gente fala sobre o que fazer em Chiloé. Se Torres del Paine e Púcon são rotas de aventura, aqui, história, tradiçoes e humanidades são os grandes atrativos. Chiloé é uma pacata ilha de pescadores na costa do Pacífico, onde o tempo não avança.
Deixando para trás a imponente paisagem de Torres del Paine, tomamos um ônibus e uma barca em direção ao arquipélago, um lugar onde a mistura de índios e espanhóis criou um mundo singular. Chiloé quer dizer Terra das Gaivotas, mas aqui também é casa de pinguins, raposas, cisnes de pescoço preto e, algumas vezes, de baleias em migração. Para conhecer a região, nos hospedamos por quatro dias no Tierra Chiloé. O hotel é kidsfriendly, tem uma estrutura incrível para família, com guias próprios, cavalos, bikes e um barco (recomendadíssimo! Leia aqui nosso review sobre o Tierra)
O QUE FAZER EM CHILOÉ
PARA ENTRAR NO ESTILO CHILOTE
Um grupo de pescadores se reúne no porto de Dalcahue, um dos importantes vilarejos (e mesmo assim pequeno) de Chiloé. Eles comemoram com estardalhaço a pescaria, foi um bom dia. Mais adiante, no Centro Comunitário de Artesanato, Sayen Galván tece mais um gorro. Ela tem 92 anos, e a tecelagem é parte de uma tradição familiar.
Nosso guia Kinji (ele faz parte da seleta equipe do Tierra Chiloé) explica que em Chiloé é um dos poucos lugares onde ainda se pode comprar artesanatos diretamente das mãos de quem o produz, enquanto nos leva até as cocinerías do mercado. É um programa divertido para quem curte provar comidas típicas no melhor estilo caseiro, e aqui descobrimos a melhor empanada de toda a viagem. E é um programa engraçada para as criancças: ver fazerem a massa dos pasteis, tudo ao vivo, como um filminho. E depois comer!
Chiloé também é berço de uma arquitetura tão impar que virou Patrimônio Mundial da Unesco. Aqui, jesuítas chegaram trazendo a fé nos anos 1600, e encontraram os índios, que não dominavam o ferro, mas tinha habilidade extrema com a madeira. A união desses dois resultou na edificação de um conjunto lindíssimo de igrejas em madeira, datadas do século XVII. Elas são feitas de pequenas telhas de madeira (as tejuelas), talhadas à mão, e por dentro de assemelham a um barco virado para baixo, lembrando a cultura pesqueira. A técnica também é empregada nas palafitas da ilha, outra marca de Chiloé. Com uma maré que chega a variar 7 metros num mesmo dia, a necessidade de se estar à beira-mar, de onde historicamente vem a principal forma de sustento, imprimiu sua marca em todas as formas de vida.
Se isso tudo é um programa para crianças? Certamente. Porque o lugar é lindo, tem natureza abundante, e isso incluiu uma pinguinera (na praia de Puñihuil, onde ficam pingüins de Magallanes de Humboldt ), além de todos os bichos divertidos e curiosos de que falamos lá em cima.
E fora isso, a ilha é uma ótima pra andar de bike, de cavalo, de barco!
Enfim, aqui está um Chile in bruto como costumam dizer, mas super de boa pros pequenos. Uma região fértil em histórias, natureza, lendas e paisagens incríveis. Mas é preciso calma para descobrir. Não venha correndo, é a primeira dica. Guarde alguns dias para essa viagem, porque há muito o que ver por essas bandas.
OS PASSEIOS IMPERDÍVEIS
Antes de começar, uma observação: esses passeios fazem parte do menu do Tierra Chiloé, onde ficamos hospedados. O hotel tem seu grupo de guias interno, com excursões exclusivas belíssimas, montadas para os hóspedes, e feitas por terra e mar. Por mar, ainda tem um plus de ir à bordo do Williche, uma traineira repaginada bacanésima que pertence ao Tierra.
ISLA MECHUQUE (passeio de dia inteiro)
Foi o passeio que escolhemos para fazer no nosso primeiro dia, e é uma excursão incrível!!! A primeira parada foi na Cascata de Tocoihue, maior de Chiloé. Depois, seguimos rumo ao vilarejo de Tenaún, onde fica uma das igrejas históricas de Chiloé. Um pequeno passeio pelo pueblo pitoresco, e pegamos o barco Williche rumo a ilha Mechuque. O barco nos deixa a algumas braçadas de mar de Mechuque, e vamos então em caiaques até lá. É uma remada super fácil, em caiaques de duas pessoas, e que passa por paisagens lindas.
Daí a gente chega a Mechuque. É um pueblo de meia dúzia de ruas, sem sinal de internet, sem carros, e de uma calmaria que invade a alma. Sabe lugares cativantes? É isso.
DALCAHUE e QUiNCHAO (passeio de dia inteiro)
No nosso segundo dia em Chiloé, fizemos esse passeio, e é lindo DEMAIS. Começa no povoado de Dalcahue, aquele onde tem o centro de artesanato e as cocínerias. Kinji, nosso guia amável, nos levou pelas ruas pacatas de Dalcahue e pelos mercados.
De lá, rumamos para a ilha de Quinchao, onde visitamos os pueblos de Achao, Curaco de Vélez,
Em Achao fica a igreja mais antiga de Chiloé, a Igreja de Santa Maria do Loreto, e no verão esse pequeno povoado recebe o Festival Folclórico do arquipélago, com música, comida e outras manifestações (dizem ser incrível!). De Achao, seguimos para Curaco de Vélez, que guarda um conjunto precioso de casas de madeira, algumas datas de 1600. É um povoado gostoso para caminhar, tomar um café e apreciar.
O dia terminou no Agriturismo da Sandra Naiman, uma mulher com0vente que toca sozinha toda uma produção orgânica de geléias, hortaliças, lã, frutas. Visitamos tudo, alimentamos as ovelhas e cavalos, e ao final, lanchamos por lá.
CAVALGADA (passeio de meio dia) E BIKE
Nosso último dia decidimos dar uma volta de bike e fazer uma cavalgada. Pelo caminho, bosques, pequenos povoados e mirantes.
PARA COMER UM PRATO TÍPICO
¨Vocês não podem perder! Hoje é dia de Curanto, não se atrasem para não perder quando formos destampar¨, nos disse nosso anfitriäo no Tierra Chiloé em tom solene. Confesso que, embora já tivéssemos ouvidos falar no prato super tradicional de Chiloé, não entendemos a importância do momento até chegar a hora H.
Comer curanto é ritualístico. O prato de origem indígena é um grande assado feito sobre pedras quentes, em um buraco cavado no chão.E diz muito sobre o local onde nasceu. O assado é preparado entre folhas de nalca, uma planta nativa, e leva batatas e mariscos, dois ingredientes muito típicos na ilha (em Chiloé, há mais de 300 tipo de batata!). Mas, mais do que tudo, o curanto tem a ver com a cooperação entre amigos, com a generosidade e o bem-receber. O Chilote ainda tem o costume de se reunir para “puxar¨a casa de alguém, e quando isso acontece, ao final da empreitada, o beneficiado oferece o curanto para os companheiros.
E, por isso, a cerimônia foi anunciada com tanta reverência no Tierra, um hotel que sabe como poucos receber seus hóspedes. Salvas e vivas!
E AGORA UM ESPETÁCULO DE TODOS OS DIAS PELOS JARDINS DO TIERRA CHILOÉ! (respirem fundo, porque é uma beleza de tirar o fòlego!)
Como chegar em Chiloé: Castro já é dentro de Chiloé é o lugar mais perto. Depois Puert Montt, a 1h-1;30. A melhor idéia é voar até aeroporto de Castro ou Puerto Montt, mas existe a possibilidade de ir de ônibus.
Para entender o que fizemos, nós estávamos no Tierra Patagônia, em Torres del Paine. De avião, o voo iria até Santiago e depois Castro, e com as escalas seria mais demorado que ir de ônibus. Então pegamos um salón-cama (que é o ônibus que deita mais) e fomos até Puerto Montt, onde o Tierra nos buscou.
Quanto custa: a partir de US$ 1,3 mil por dois de hospedagem (mínimo de tempo). Levando em conta que é um all inclusive com bebibas, comida, translados, passeios e tudo mais, vale muito à pena! Crianças até 4 anos são free.
Para reservas: As reservas podem ser feitas pelo site do Tierra ou pelo Booking.com