O impacto por trás do festival de lanternas: até onde vale à pena

Ave morta em meio ao lixo das lanternas

Essa semana, voltamos a ver pipocar fotos do festival de lanternas em Chiang Mai e Taiwan, e elas são de fato uma visão esplêndida. Mas o que acontece quando o festival acaba, e as milhares de lanternas voltam à terra? A alegação feita por alguns dos vendedores, consumidores e apreciadores desse evento é que as lanternas seriam de papel “biodegradáveis”, mas esquecem de dizer que elas têm suporte de metal e que o material usado para combustão é antiecológico. O impacto é gigantesco, e já alertados por ambientalistas de todo o mundo.

Imagino que muita gente que participa do festival não tem consciência do estrago que ele causa. Por isso, resolvi reunir um pouco de informação nesse post. Também aproveito para deixar aqui o alerta que a Patchinpixels,  outra viajante que gosto muito, fez sobre o assunto.

Tanto o governo de Taiwan quanto de Chiang Mai defendem que o festival é importante para agenda cultural e econômica de seus destinos, e que é uma tradição espiritual milenar. Mas o fato é que a tradição perdeu boa parte do seu contorno.

Só em Chiang Mai, esse evento reúne em dois lugares cercado cerca de 7 mil pessoas, que pagam US$200 dólares de entrada e têm direito a soltar duas lanternas gigantescas nos céus. Não tenho informações, mas duvido muito que os nativos tenham acesso às àreas fechadas, o que na minha visão, já confere um caráter muito mais comercial que espiritual ao evento.

Ahhh, mas muitos dirão que a sobrevivência dos nativos de Chiang Mai depende desse festival. Isso é a mesma desculpa por trás da exploração das mulheres-girafa, e dos elefantes (e quem garante que quem está por trás dos camps de resgate não são os mesmos que estavam por trás do cruel negócio de tour com elefantes? A real é que precisamos pesquisar muito antes de embarcar em modas e ondas). E durante quanto tempo as pessoas não compraram a ideia do Tiger Temple, onde tigres são dopados e acorrentados, como um lugar de convivência harmoniosa entre os monges e os animais?

Mas voltando ao assunto lanternas de Chinag Mai: além desses dois cercados, do lado de fora ficam outras milhares de pessoas que não querem desembolsar os dólares, mas não querem perder essa oportunidade de ouro de jogar um balão aceso lá pro alto e tirar aquela foto dos sonhos que com certeza vai bombar.

E além dos pelo menos 14 mil balões ricos voando pelo céu, o festival também gera muito, muito lixo, garrafas, vidro e plástico deixados  pela horda de viajantes

Agora vamos aos dados:

  • Tradicionalmente, essas lanternas são feitas de papel de algodão e bambu, mas com a popularização do evento, e a necessidade de aumentar a produção, esse processo se tornou inviável, e elas passaram a ser feitas de metal e papel resistente à água.
  • Pelos cálculos da organização Ballons Blow, as lanternas levam cerca de um ano para se biodegradar. São tudo, menos ecofriendly. E todos nós sabemos que tipo de dano  plástico, metal e papeis resistentes causam à vida selvagem e ao meio ambiente, não é?
  • Se você não sabe, anote: o arame e o papel podem entalar na garganta, nariz e estômago de pássaros, tartargas e outros animais, levando a uma dor imensa e morte.
  • Ao mesmo tempo, as lanternas ganharam dimensões gigantescas, o que dificulta que sejam queimadas completamente.
  • Muitas dessas lanternas podem cair ainda pegando fogo, e provocar incêndios. No Vietnam, quase 20 incêndios florestais depois de um dos festivais,  levaram à proibição da realização desse tipo de evento.
  • Além disso, outra boa parte vai pro mar, se juntando à imensa ilha de lixo do Pacífico

Então, a pergunta que faço aqui para turistas e influenciadores é:  o quanto vale à pena o clique que vai render milhares de likes? Até onde vai o nosso ego? Para onde vai o lixo que geramos com esse tipo da atitude?

Será que nosso papel como viajantes e como influenciadores não é o contrário: preservar  o meio ambiente e as tradições como elas realmente são?

 

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Milhares de lanternas sendo lançadas ao céu em Chiang Mai
Milhares de lanternas sendo lançadas ao céu em Chiang Mai
O lixo que se acumula no Pacífico: para onde você acha que vão as lanternas e os detritos do festival?
O lixo que se acumula no Pacífico: para onde você acha que vão as lanternas e os detritos do festival?
Metal e materiais de combustão antiecológicos na fabricação das lanternas. Não se sabe a procedência delas, nem se realmente são de papel biodegradável
Metal e materiais de combustão antiecológicos na fabricação das lanternas. Não se sabe a procedência delas, nem se realmente são de papel biodegradável
Restos de lanternas

 

 

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6 Comments

  1. says: Tatiana

    Não participei porque não estava lá na época, mas era uma vontade minha voltar lá para isso… depois da reflexão desse texto, não mesmo. Obrigada por fazer o alerta!!

    1. says: admin

      Oi, Tati. Eu também já tive muita vontade de ir. Mas hoje em dia, sabendo desses impactos, eu mudei de ideia. Essa é a parte bom dessa comunidade virtual de viagens: trocamos informações e ganhamos consciência. beijos!

  2. says: Rebecca

    As “lanternas” são basicamente balões caixa, que aqui no Brasil, por exemplo, é proibido. Vejo uma galera criticando os balões aqui e indo pra Tailândia acender balão lá. Viva a hipocrisia. Achei o seu post ótimo!

  3. says: JOHN LENNON BEZERRA DE SOUZA SILVA

    Não concordo com o post.
    Na opinião dos mais estudiosos os maiores impactos ambientais são causado pelas indústrias em geral.
    Por exemplo.
    Poluição sonora, contaminação do ar, contaminação do solo, contaminação dos rios e praias.

  4. says: Sandra

    Eu li que os balões atualmente são feitos de papel arroz e bambu… os bambus que caem nas fazendas dos arredores são colhidos pelos fazendeiros e devolvidos para os organizadores do festival, que os reembolsam por esse trabalho.

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