Ainda me lembro da primeira vez em que entrei na redação do jornal O Globo, aqui no Rio de Janeiro. Eu devia ter uns seis anos, fui levada pelo meu tio, também jornalista, e amei aquela maluquice toda. Menos de 15 anos depois, lá estava eu, em frente ao computador, correndo contra o relógio para cumprir os prazos do jornal.
Um dia, porém, vi que esse projeto não era o que queria para o resto vida, e decidi deixar as redações para trás e meter o pé na estrada com a minha família. Pedi que me demitissem, torrei 70% do que eu tinha no no fundo de garantia em oito meses sabáticos, e na volta investi os outros 30% do projeto do blog. Meti as caras, o peito e o coração e torci pra tudo dar certo. Foi a decisão mais acertada da minha vida.
A história foi mais ou menos assim. Tenho 44 anos, passei 3 deles na TVE, e outros 10 como repórter no O Globo. Tinha um bom cargo, um bom salário, ótimos amigos mas, em algum momento, a rotina começou a cobrar um preço na forma de enxaquecas terríveis e um princípio de depressão que o médico associou ao estresse. Mas eu não conseguia ver vida fora do jornal, até que veio o grande chacoalhão.
Eu estava grávida da Juju, trabalhando como uma louca, e descobri que o meu pai estava com câncer. O ano era 2004. O barrigão crescia, as pautas não paravam de chegar, e eu me desdobrava para trabalhar e ficar com meu pai. Meu pai era tudo pra mim. Mas aí, apenas três meses depois do nascimento da Juju, meu pai adorado faleceu.
Foi aí que decidi mudar de vida e me dedicar ao que realmente era importante na minha vida: as pessoas. Mas a transição é difícil, amedrontadora, demanda coragem e planejamento. Passei dois anos amadurecendo a ideia de largar tudo e mudar de vida e, em 2006, pedi demissão do jornal, vendi meu carro, comprei uma bicicleta para me locomover, peguei meu FGTS e tirei os tais meses sabáticos. Rico, meu marido e fotógrafo, me acompanhou nessa. E assim metemos o pé na estrada com a Juju.
Minha motivação principal era ter mais tempo com a minha família, e criar a minha filha para fazer parte de uma geração que fizesse a diferença no planeta. Uma geração com mais consciência, que respeite o outro e o que é diferente, que exercite a tolerância entre as pessoas, e cuide do meio ambiente. Isso porque realmente a humanidade anda bem louca: consumimos o que não precisamos, passamos mais tempo juntando dinheiro para pagar supérfluos do que vivendo, somos cheios de preconceitos escondidos, fazemos guerra, demarcamos fronteiras e expulsamos refugiados, achamos divertido prender animais para que eles nos divertam.
Não que seja necessário viajar para abrir o espírito e a mente – essa é mais uma viagem interior que exterior. Há pessoas maravilhosas que nunca saíram do seu quilômetro quadrado, e que transformam o seu pequeno entorno da forma mais generosa e profunda que possa existir. Conheço várias assim.
Mas essa forma que escolhi, já que aqui em casa todos amamos viajar, e pelo simples fato de que eu não conseguia mais trabalhar “vendendo ideias” das quais eu discordava.
Para levar adiante tudo isso, transformei viagem em trabalho. Hoje, praticamente vivemos do blog. Passamos 50% do nosso tempo viajando, e os outros 50% produzindo material. Escrevemos para outros canais, “vendemos” nossas matérias para meios impressos, inventamos um programa de tevê no Canal Woohoo, e assim nos sustentamos.
Juju nos acompanha em todas as viagens. A primeira viagem dela foi com 4 meses, e de lá pra cá, fomos para mais de 40 países, incluindo Camboja, Indonésia, Laos, Venezuela. Hoje ela tem 14 anos, e quando me perguntam como fazíamos para viajar com ela pequena, minha resposta é simples: apenas íamos. Achava facílimo viajar com ela bebê: a comida era mamada, e tem sempre o carrinho. Depois, quanto mais se viaja, mais fácil é.
Claro, já passamos perregues, como uma febre de 39 graus em Jericoacora, que acabou gerando uma gagueira momentânea, resolvida assim que chegamos de volta em casa. Também já perdemos um voo, já que o timming com crianças é mais lento, e algumas vezes tudo parece parar. Outra vez, tivemos que dormir no carro, porque planejamos mal nossos deslocamentos. Mas tudo isso é aprendizado.
Por outro lado, Julia fez contato com tribos das montanhas do Laos, nadou com mantas no Pacífico, com tubarões em Noronha, fez amigos na Jamaica, na Espanha, em Alagoas, não tolera zoológicos, não anda de charrete, já colheu o que comeu, não estranha uma mulher de burca, nem um mulher com os peitos de fora, já viu 15 leões brincando juntos solto na natureza, fez trekking num vulcão ativo, se apega em todas as pessoas que conhecemos pelo caminho, quer ser médica e pretende começar o voluntariado para salvar animais.
Frequentemente ouvimos também: “mas e a escola?”. Julia não faz homeschool. Ela estuda num colégio construtivista, que compreende todo esse aprendizado das viagens. E, para recuperar o conteúdo perdido, ela corre atrás. O que considero mais um aprendizado: correr atrás e acreditar.
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Gabi, conheci você como repórter do jornal. Eu assessora, você repórter. Me lembro como a maioria das assessoras tinha você como uma pessoa difícil. Eu nunca achei isso. Sempre que mandava uma boa sugestão, mas boa mesmo, não enrolação, você topava. Nem quando você era d’O Globo você se vendeu. Só passava por você as sugestões que tinham conteúdo. Então, não foi surpresa alguma quando pediu demissão e embarcou, literalmente, nessa. O que eu posso dizer hoje, uma década depois, é que tenho muito orgulho de você. E do Rico. E da Juju, que encara qualquer parada com esses pais maravilhosos. Fico muito feliz por cada coquista dessa família linda, amada! E o futuro… bem vindos ao futuro! Vida longa ao Juju na Trip!
Ahhh sua linda!! Obrigada!!! Você é uma amiga muito querida. O que melhor acumulei no jornal: as amizades.
Gabriela e família. Parabéns pelo trabalho e pelo exemplo que dão.
Marcelo, que legal que curtiu nossa história!!! Obrigada!!!!
Gostaria de saber mais em relação a escola da Juju, tenho dois filhos e me sinto presa em casa devido a escola deles!! Adoraria viajar além do período de férias escolares!
Oi, Duda! Tudo bem? Desculpa a demora pra responder, mas estávamos viajando e com pouco acesso ao wi-fi.
Então, fazemos viagens curtas, de até 12 dias durante o período escolar, e nas férias nos largamos por mais tempo.
Para recuperar o que perdeu, Ju tem aulas de reforço de matemática e português, e as outras matérias eu estudo com ela.
Há um tempo acompanho o blog e o instagram Juju na Trip. Já li a história de vocês antes e hoje me peguei aqui de novo rs. Acho tão inspirador! A tomada de decisão para largar um emprego fixo para a vida de viajante profissional não é fácil e hoje vocês são referência no ramo! Parabéns pelo trabalho e também por mostrarem o mundo de forma tão autêntica para a Juju.
Um beijo grande!
Ju Proença
Nós também gostamos muito de viajar e Helena, 9 anos, acaba faltando pelo menos um mês de aula todo ano. A escola dela também é construtivista e apoia a ideia. Só que ela reclama de ficar muito tempo longe dos colegas, ela super aproveita as viagens, mas reclama que preferiria viajar menos durante o ano letivo. Juju nunca reclama?
Juju ama viajar, mas às vezes reclama do volume de estudo pós-viagem, porque precisa recuperar o que perdeu. Mas ela prefere nao perder a viagem hehe
Muito inspiradora a sua história, parabéns pela coragem de ir atrás do sonho. Admiro pessoas assim! Grande abraço e continuação de boas viagens.
Obrigada, Filipe!!!!
Vida longa e frutífera para esse estilo de vida que me inspira demais!!!
Obrigada!!! Que bom ler esses comentários!
Precioso!!! Muchos saludos. Cuando podais visita islas baleares y si necesita un baco de alquiler podrás realizar una reserva en navegaenbarco.com