Aos 13 anos, a Juju virou meme na internet porque conhece mais de 20 países

Aos 13 anos, Julia conhece mais de 20 países.  Aos 13 anos, Julia foi chamada para falar dessa vida nômade num programa da tevê. E virou meme. A entrevista viralizou na internet, e virou uma brincadeira com comentários engraçados e divertidos.

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Tudo começou com esse post de cima, e foi rolando daí pro resto da web. Lendo os comentários, me deu vontade  de falar sobre essa história da Juju viajar tanto, e que tem a ver com um assunto que eu acho muito importante. Divido aqui com vocês meu relato pessoal, e fiquem à vontade para deixar suas opiniões:

Por trás da brincadeira, a maior parte dos comentários mostrava uma discrepância entre a nossa realidade e a das outras pessoas. Pouca gente tinha a mesma bagagem que a Juju; muita gente tinha muito mais idade e conhecia muito menos do mundo  – alguns nem tinham saído do estado onde nasceram. Num país onde 20 milhões de pessoas vivem em situação de extrema miséria,  onde 30% das famílias ganham menos de um salário mínimo, onde 13 milhões são analfabetos, e onde nem a terra nem a riqueza são distribuídas, tantos carimbos no passaporte de uma criança pode soar extravagância.

Mas a verdade é que qualquer um pode viver assim. E viajar assim. Nós não somos os únicos, embora sejamos minoria. A real é que esse é um processo de desapego. Tudo começa por nesse ponto.

Não viajamos porque somos ricos, viajamos porque foi uma opção de vida, muito suada, e que demandou muita coragem. Para isso, larguei meu emprego com salário fixo no fim do mês e plano de saúde, vendi meu carro, fiz um bazar do meu antigo armário, parei de comprar roupas, de biritar com os amigos, e transformei isso tudo em caixinha de viagem. E o Rico, o pai e marido mais lindo e cheio de amor desse mundo, chegou junto.

Viajamos do jeito que dá, de carro, de carona, de avião, em hotel de luxo com o apoio de parceiros aos nossos projetos, em hostel, em casa de amigos. E trabalhamos pacas, mas de uma forma alternativa, para que essa vida louca nos sustente. As viagens são um ganha pão: a gente gera conteúdo pra uma penca de lugares. Há quem trabalhe em escritórios, há quem trabalhe pelo mundo. Nós fazemos parte dessa segunda leva.

Viajar é um prazer enorme. Não existe nada que nos faça mais feliz, que nos una mais. Mas também acreditamos que, justamente diante da crise de grana e de valores – não só do Brasil,  mas do mundo todo –  viajar é mais importante que tudo. É a nossa aposta para que a Juju (e nós) sejamos pessoas mais tolerantes (sim, não me canso de falar isso), justas e combativas.

Se vamos para a África, fazemos os safáris incríveis, mas sabemos que ali do lado tem reservas de jogos de caça. E que longe das cercanias turísticas, uma população miserável é vitimada por DSTs enquanto a indústria farmacêutica briga pelos Royaltie$ dos remédios.

Na Patagônia, vemos lindos glaciares, mas também nos deparamos com o degelo, e os problemas do aquecimento global.

No Pará e na Amazônia, índios sem terra. Já em Bonito, muita cachoeira linda, mas também muita terra concentrada nas mãos de poucas famílias. E assim vamos vendo o mundo, e entendendo o que precisa mudar.

No Brasil, na Jamaica, em Bali, na Indonésia, no Laos, na Europa. Por onde vamos, aprendemos que não somos iguais. A ideia de sermos iguais pressupõe  povos subjugados à realidade de outros mais fortes. Somos todos diferentes. Temos cores diferentes, crenças diferentes, culturas e costumes diferentes. E essa diferença é linda, e deve ser respeitada e valorizada.

Viajar é libertário.

#Lutaquesegue

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14 Comments

  1. Muito bom esse post, seu relato, atitude e história!!
    Também penso da mesma forma, e viajar pra mim é imprescindível, embora algumas pessoas não entendam.
    A vida de ninguém é perfeita, e cabe a nós irmos em busca do que sonhamos/acreditamos.
    Também deixei minha zona de conforto, e “vida dos sonhos” para viver experiências novas, e me tornar uma pessoa melhor com cada uma delas.
    Aqui um pouco do meu relato, de como viu de professor de química insatisfeito, a blogueiro de viagens em menos de 8 anos.
    http://www.7continents1passport.com/como-visitei-40-paises-antes-40-anos/?lang=pt-br
    Safe travels! 😉

    1. says: admin

      Oi, Claudia. Fazemos umas 3 viagens por semestre letivo, que duram de 5 a 12 dias. Na volta de cada viagem, eu estudo com ela o conteúdo pedagógico perdido. A escola compreende as faltas. porque entende que ela aprende muito nas viagens.
      E nas férias escolares, conseguimos ficar mais tempo.

  2. says: TT

    Parabéns pelo texto. No mundo atual as pessoas tendem a ficar no superficial de tudo e fazem pré julgamentos sem conhecer a realidade e a trajetória do outro. Eu não tenho filhos ainda mas gostaria muito de um dia poder viver assim como vocês. Como não adianta só o desejo, estou implantando o desapego e trabalhando para isso. Continuem seguindo firmes pois vocês estão vivendo do jeito que amam, com fruto do trabalho de vocês e a Juju tendo toda essa experiência de vida entenderá muito mais o coletivo.

  3. says: Luiza Armelau

    Adorei o texto, a visão de vida e o respeito por si mesmo e pelos outros.
    Somos mesmo todos diferentes e ter a ousadia de fazer diferente para aprender com as diferenças não é um luxo , mas um ato de coragem.
    Respeito muito o que vocês fazem e torço muito pelo sucesso do seu projeto de vida.
    Grande abraço!

  4. says: Patrícia Pinheiro

    Parabéns! E esse é o meu sonho de vida: conhecer o mundo e muitas culturas. Sou Socióloga e pretendo me especializar em Antropologia. Então, nada melhor que viajar para complementar meu trabalho.

  5. Adoramos seu blog, parabéns. Uma inspiração. Partiremos de Floripa para a Patagônia agora dia 18 de dezembro, de carro. Estamos apanhando para montar nosso primeiro blog de viagem, mas somos persistentes. Também somos um casal com um filho de 10 anos que nos acompanha sempre nessas aventuras de carro. Vamos até Ushuaia, passando por Torres del Paine, El Calafat, El Chalten…enfim muitos lugares.
    Parabéns pela escolha de vida, pena que já passamos da idade para vivermos assim, mas dentro do possível, vamos fazendo nossas viagens de carro e curtindo todas essas maravilhas que Deus nos deu, e que muitas, só de carro mesmo para conhecer.
    Abraços,
    Gi

  6. says: Grazi

    Bom dia. Parabenizo vocês pela ousadia e coragem. Tenho uma filha e gosto muito das sugestões de vocês. No entanto, queira me permitir discordar sobre um aspecto.
    Definitivamente não é verdade que “qualquer um pode viver assim. E viajar assim.”
    Num país com o percentual enorme de pessoas vivendo em extrema pobreza, são privilegiados aqueles que podem abrir mão do emprego, plano de saúde, itens pessoais em busca de um sonho. A maior parte da população acorda todos os dias para trabalhar suado na tentativa apenas de colocar comida no prato. E para esta grande maioria das pessoas, este tipo de sonho está muuuuuito distante.
    Admiro o propósito de vocês, entendo que propõe uma reflexão importante acerca do consumismo, mas me incomoda este tipo de afirmação no corpo do texto. Conhecer tantos países com tão pouca idade certamente requer abrir mão de muitas coisas e isto envolve coragem e determinação, sem dúvidas! Concordo não se tratar de extravagância, mas é inegável ser um privilégio que NÃO, não é algo que esteja ao alcance de “qualquer um”.
    Um abraço!

    1. says: admin

      Oi, Grazi. Gostei do que vc escreveu. <3 Entendo o que você fala, e de certa forma concordo. Somos privilegiados, realmente, mas nada ricos.

      Não temos situação financeira confortável, embora estejamos bem melhor que a população miserável que sofre, e muito, com a mal distribuição de riqueza num planeta extremamente rico.

      Mas o que posso te falar é que eu acordava todo dia pra trabalhar e pagar contas, colocar comida no prato, e isso não me satisfazia. Eu tinha um emprego fixo, e passava a madrugada fazendo frelas porque meu salário não dava pros gastos. Teve uma época em que cheguei a ter três empregos mal pagos, pra botar a tal comida no prato e pagar empréstimo de banco. Teve uma época ainda em que, além dos empregos, eu vendia brownies. Eu era uma trabalhadora bombril: 1001 utilidades, com contas que me sufocavam. E isso não era uma situação de privilegiada: era o retrato dos trabalhadores num país de capitalismo barbárie.

      Privilégio é a vida que tenho agora, embora muitas vezes a conta não feche no fim do mês.

      Acho realmente que para os que são menos miseráveis, para os que têm um mínimo, é possível viver assim. Trabalha-se pelo caminho, há muito lugares que aceitam imigrantes, há voluntariado, há trabalho em troca de casa e comida, há internet pra vender produtos que você inventa. E assim vai-se pelo mundo.

      Mas concordo que é preciso ter um mínimo de escolaridade, de entendimento de tecnologia, de domínio de um idioma mesmo que seja o português. Sei que não é para todos, mas é para muitos. E para esses muitos, basta ter coragem e estar afim.

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